Narrativa Existencial: O Caminho para a Transcendência do Ser
Em Narrativa Existencial: O Caminho para a Transcendência do Ser, Flávio Sousa conduz o leitor por uma profunda análise da construção do ego e da identidade, baseada na fenomenologia de Sartre. Explorando como as narrativas que criamos sobre nós mesmos não apenas refletem nossa existência, mas também moldam nosso caminho para a transformação pessoal, o texto mergulha na psicologia existencial e na relação entre consciência, escolhas e transcendência. Com uma abordagem instigante e filosófica, esta leitura convida à reflexão sobre o autoconhecimento e a possibilidade de reescrevermos nossa própria história.
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Por Flávio Sousa
8/30/20243 min ler
Na vastidão das histórias que tecemos sobre nós mesmos, reside a essência de quem somos, sofremos por ser e quem almejamos ser. A cada palavra, a cada memória que evocamos, criamos uma narrativa que, muitas vezes, acreditamos moldar e definir a nossa existência. Mas e se essa narrativa fosse mais do que um simples reflexo do que vivemos? E se ela fosse o próprio caminho para "A transcendência do ego", como nos propõe Sartre em sua obra de mesmo nome?
Dentro da psicologia sartreana, a análise das narrativas existenciais não se trata apenas de compreender o passado, mas de usar esse entendimento como ferramenta poderosa para a transformação pessoal. Sartre nos propõe a partir de sua análise fenomenológica do ego, que este ícone de nossa identidade, não é um elemento fixo, imutável, tampouco existe dentro da consciência. Ao contrário, ele é transcendente, construído pela consciência em seu movimento para o exterior, ou melhor, no exterior, a partir de nossas experiências e escolhas na interação com o mundo, e, somente lá ele é possível, criando nossa identidade na interação.
Quando nos debruçamos sobre os relatos existenciais de nossos pacientes, não estamos meramente ouvindo suas histórias. Estamos engajados em um processo profundo de análise psicológica, onde cada relato é uma pista para desvelar as camadas do ego preenchidas de crenças, medos e desejos, ações, todos constituídos nas experiências. É nesse contexto que a narrativa se torna não apenas uma janela para o passado, mas um espelho que reflete as potencialidades do ser, e que nos dá a dimensão de seu lugar.
Compreender seu lugar na própria vida e no mundo é um ato de coragem, de responsabilidade e de autocuidado. Ao narrar suas experiências, o analisando não apenas revisita o que foi através de seus próprios relatos, mas também explora o que pode vir a ser. É nesse exercício de reflexão e autoanálise que ele começa a perceber que sua identidade não é um dado irrevogável, mas uma construção contínua, aberta à possibilidade de mudança.
A transcendência do ego, portanto, se manifesta na consciência que reflete sobre os relatos, identificando assim, ações, sentimentos, desejos e etc., que transcendem um indivíduo, traduzindo assim sua dimensão de sujeito em sociedade, ou seja, uma jornada em direção ao autoconhecimento. É ao reconhecer a impermanência de suas narrativas que o indivíduo ganha a liberdade de reescrever seu papel no mundo. A análise existencial, guiada pelos princípios da psicologia sartreana, oferece a oportunidade de transcender as condições atuais, de desafiar as limitações autoimpostas e de se mover em direção à transformação pessoal.
No espaço terapêutico, essa análise se transforma em um ato de criação. O paciente, com o auxílio do terapeuta, começa a esculpir uma nova postura, uma que não seja ditada pelo passado, mas sim pelo desejo de alcançar um novo patamar de existência. Nesse processo, ele descobre que é possível ir além do contexto que se percebe assumindo, quando descobre seu ego presente nos relatos, mesmo porque, o ego não toma suas decisões, apenas nos revela padrões comportamentais e uma dinâmica bem ao modo "piloto automático" quando agimos, o que é possível transcender, não como uma fuga da realidade, mas como uma forma de se conectar mais profundamente com nossos propósitos.
Aqui, a narrativa existencial deixa de ser um simples relato para se tornar um meio de empoderamento. Cada palavra proferida, cada lembrança revisitada, se transforma em uma ferramenta para a construção de um novo ser. Através desta análise, o sujeito encontra a chave para sua própria libertação, percebendo que, ao compreender sua voz nos próprios relatos, ele se aproxima cada vez mais do lugar que deseja ocupar no mundo.
Ao revisitar e analisar as histórias que conta sobre si, o indivíduo percebe que não é apenas um reflexo de seu passado, mas o autor em constante construção de sua própria existência. Nesse reconhecimento, ele descobre que a verdadeira liberdade reside na capacidade de transcender narrativas limitantes e assumir, com consciência e responsabilidade, o protagonismo de sua jornada. Afinal, compreender-se não é um ponto de chegada, mas um processo contínuo de transformação e produção de sentido no mundo.