Navegando no Niilismo: Da Desconstrução à Reconstrução da Realidade (Parte 1: O Retorno ao Nada)
Exploramos o niilismo como um portal para a liberdade e a criação de sentido. Nesta primeira parte, investigamos a desconstrução e o retorno ao nada como um movimento essencial na construção da autenticidade. A partir de Nietzsche e Deleuze, analisamos diferentes formas de niilismo e como ele pode ser tanto uma armadilha quanto um impulso transformador. Descubra como a destruição criativa e a multiplicidade podem levar à reconstrução de uma vida significativa.
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Por Flávio Sousa
4/16/20244 min ler


"Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar!" Gn. 3:19. Uma máxima que nos confronta com a finitude da existência, com a efemeridade da vida. Mas e se, em vez de um ponto final, a interpretássemos como um ciclo, um eterno retorno? É nessa perspectiva que o existencialismo, com Nietzsche e outros pensadores à frente, nos convida a repensar o niilismo, não resumindo-o ao abismo apenas, mas como um portal para a liberdade autêntica.
Para o existencialismo, o niilismo não é apenas um ponto de partida, mas também um retorno. Retorno ao nada? Sim e não. Retorno à possibilidade, à liberdade de moldarmos nossa própria existência. Somos jogados em um mundo sem significado pré-definido, sem um roteiro pronto a ser seguido. Cabe a cada um de nós criar o nosso próprio sentido, a nossa própria beleza, o nosso próprio propósito.
Mas o que é o niilismo? É a negação dos valores e crenças desprezando sua importância, a recusa de aceitar um significado pré-estabelecido para a vida. É a percepção de que a existência humana é intrinsecamente absurda, desprovida de um propósito.
É nesse contexto que a multiplicidade se torna crucial. Abrir-se para as diversas relações, abraçar os inúmeros acontecimentos, agarrar as infinitas oportunidades que a vida nos oferece. Essa multiplicidade, longe de ser caótica, é a matéria-prima com a qual construímos nossa identidade.
Mas essa jornada não se faz sem transformação. É preciso estar disposto a desafiar crenças limitantes, questionar estruturas opressoras, desconstruir a própria identidade quantas vezes forem necessárias. É nesse processo de destruição criativa que nos tornamos livres para reconstruir algo novo, algo mais autêntico, algo mais próximo do nosso verdadeiro si mesmo.
É aí que reside a felicidade, não como um estado permanente, mas como fruto da ação, da busca incessante, da vontade de se superar. Felicidade não é encontrar um sentido pronto, mas sim, criar o seu próprio a cada dia e vivenciar os benefícios dessa criação.
No entanto, o niilismo nem sempre se manifesta de forma libertadora. Deleuze, filósofo francês, destacou quatro categorias:
Niilismo negativo: A negação do mundo real em nome de um mundo superior extramundano, na tentativa de suportar este real que o tormenta. Uma fuga da realidade, que nos impede de viver a vida com plenitude e autenticidade que desagua em ideais imagináveis. Exemplo: Crenças ou doutrinas que impede alguém de apreciar a beleza do mundo real ao abrir mão de sua liberdade em prol da aceitação incontestável do estabelecido.
Niilismo passivo: Sentido e vontade ausentes na vida. A apatia, a indiferença, a acomodação no "nada" é sua característica. Uma paralisia da alma, que nos impede de agir e transformar a realidade pela falta de nós próprios. Exemplo: A pessoa que se sente apática e sem vontade de fazer nada, mesmo diante das injustiças do mundo ou dos absurdos da vida.
Niilismo reativo: A negação do outro, a busca por poder e domínio, a recusa da diferença. A troca de valores outrora sagrados por outros em seu lugar, preservando a essência e o culto a valores atualizados, por sua vez, mas que garantem a submissão e o controle dos que o puseram em evidência. No entanto, uma armadilha do ressentimento, que nos aprisiona na amargura e na inveja. Exemplo: O racista que nega a humanidade do outro para se sentir superior.
Niilismo ativo: A negação dos valores tradicionais como ponto de partida para a criação de novos valores perpetuamente. Uma força libertadora, que nos impulsiona a criar nosso próprio significado e propósito na vida. Exemplo: O artista que questiona as normas da arte e cria novas formas de expressão.
Mas como o niilismo pode ser um combustível para a mudança? Através da destruição criativa. Ao questionarmos os valores e crenças pré-estabelecidas, abrimos espaço para a criação de algo novo e alinhado com nossa própria natureza. É nesse processo de desconstrução que nos libertamos das amarras do passado e nos tornamos livres para construir o nosso futuro.
Alienar-se no niilismo é perder-se de si mesmo, a imersão em um mundo vazio de significado. É a vida estática no nada, sem propósito, sem direção, sem paixão. Uma existência apática, indiferente, presa em um ciclo de repetição sem fim. Mas como evitar essa armadilha? Através da multiplicidade. Abrir-se para as diversas relações, abraçar os inúmeros acontecimentos, agarrar as infinitas oportunidades que a vida nos oferece. Essa multiplicidade, longe de ser caótica, é a matéria-prima com a qual nos construímos.
Como um ciclo, avançamos, questionamos, transformamos, mas o niilismo sempre estará lá, nos confrontando com a finitude da vida, com a efemeridade da existência, como indicativo de que é preciso agir. É nesse eterno retorno que reside o terror, a beleza e a força do niilismo.
"Viemos ao voltaremos ao pó?", questiona a sabedoria ancestral. O existencialismo responde: sim, mas esse pó é a matéria-prima presente e que confrontadora da nossa liberdade! Através do niilismo ativo, da multiplicidade e da mudança, podemos transformar a efemeridade da vida em um convite à criação, à autenticidade e à felicidade. Nossa jornada é nossa obra de arte, e o niilismo é o pincel com o qual a pintamos seus contornos. O niilismo não é um fim, mas oportunidade de um e muitos recomeços. Um lembrete de que a vida é um livro em branco, pronto para ser preenchido com as cores da sua própria história. Abrace a liberdade, crie o seu sentido e transforme cada instante em uma obra-prima.