O Corpo e a Psicofisiologia da Essência Humana: Perspectiva Existencial a partir de Nietzsche

A importância do corpo na constituição do ser humano através da filosofia de Friedrich Nietzsche. Este texto explora como o corpo é a base da existência, sendo a verdadeira "grande razão" que molda nossa essência, sensações e percepções. Analisamos como a fenomenologia existencial e a psicologia existencial rejeitam a separação mente-corpo, reforçando que o "Eu" é uma criação das relações corporais. Reflita sobre a conexão entre corpo, identidade e autoconhecimento, e como o entendimento do adoecimento psíquico está ligado à manifestação corporal no mundo. Uma leitura profunda para quem busca compreender a essência do ser na filosofia nietzschiana.

FRIEDRICH NIETZSCHEFILOSOFIA EXISTENCIALCORPO E MENTEESSÊNCIA HUMANANIETZSCHE CORPOIDENTIDADE CORPORALADOECIMENTO PSÍQUICOSER HUMANO NA FILOSOFIACORPO COMO ESSÊNCIAFILOSOFIA DO CORPODUALIDADE MENTE CORPOPSICOLOGIA EXISTENCIAL

Flávio Sousa

9/6/20233 min ler

woman nude photo
woman nude photo

Para refletir sobre a importância do corpo na constituição do ser humano, Friedrich Nietzsche demandou de imersão profunda e meticulosa, uma abordagem lógica e audaciosa, que se revelou não apenas útil, mas essencial para compreender a profunda complexidade da existência. Nesse contexto, apresento-lhes uma perspicaz e enriquecedora ferramenta que nos convida a reexaminar de maneira profunda e fundamental o papel do corpo como a grande razão e causa precedente de nossa essência.

Nietzsche, conhecido por sua provocativa visão sobre a vida e o ser, nos desafia a transcender as limitações convencionais e a abraçar a totalidade de nossa existência. Através dessa lente, o corpo se revela como o veículo primordial, o meio pelo qual experimentamos o mundo e nos manifestamos como seres singulares. É o nosso corpo que se torna a fonte de sensações, percepções e emoções que fundamentam a nossa compreensão da realidade e torna possível quem somos.

"Aos que desprezam o corpo tenho uma palavra a dizer. Não lhes peço para mudares de opinião e de doutrina, mas somente para se desfazerem de seu próprio corpo e dessa maneira se tornarão mudos." Nietzsche

Na esteira dessa perspectiva, a fenomenologia existencial encontra subsídios que permite compreender que a verdadeira essência do ser reside na conexão profunda entre o corpo e a mente, esta última criada a partir das relações do corpo. O corpo não se resume num simples recipiente físico, mas, ao contrário, na fonte onde todas as experiências da vida se desdobram. As emoções, os impulsos e os desejos que Nietzsche explorou em suas obras encontram uma ancoragem tangível no nosso corpo, moldando nossa maneira única de experimentar a existência.

"Tu dizes 'Eu' e te orgulhas dessa palavra. Mas coisa bem maior, aquela em que te recusas a creditar, é teu corpo e tua grande razão. Ele não diz Eu, mas procede como Eu." Nietzsche

O Eu não é criador, mas criatura produzida nas relações, ele nada pode a não ser se submeter à atuação do corpo para transformar-se e assim sempre o será. Aquilo que não manifesto enquanto atuação corporal, não permitirá meu avanço, consequentemente, rompe com meu potencial evolutivo.

Ao abraçarmos o corpo como a manifestação suprema da nossa essência, reconhecemos a importância de vivenciar o presente de maneira completa e autêntica. Afinal, é através das sensações corporais que nos conectamos com o mundo, revelando a verdadeira natureza da nossa relação com a realidade. Ao negar a dualidade entre mente e corpo, a psicologia existencial nos encoraja a mergulhar nas experiências corpóreas para acessar uma compreensão mais profunda de nós e do mundo, pois "O corpo é nosso meio geral de ter um mundo" (MERLEAU-PONTY).


Essas reflexões nos convida a uma transformação radical da nossa relação com o corpo, pois ele deixa de ser um mero instrumento funcional para se tornar a chave da autenticidade e da realização. A identidade de cada um de nós está submetida à existência e manifestação de nosso corpo; ele é o próprio "Em si" que vive, experimenta, deseja, percebe e é percebido. Dirá Nietzsche: "o homem desperto, aquele que sabe diz: Eu sou todo corpo e nada mais".


"Por detrás de teus pensamentos e sentimentos, meu irmão, há um senhor poderoso, um guia desconhecido que se chama "Em si". Habita teu corpo, é teu corpo. Há mais razão em teu corpo do que em tua melhor sabedoria." Nietzsche

Portanto, a essência do ser humano, tal como vimos em Nietzsche, encontra sua mais alta expressão no corpo. Ao reconhecer o corpo como a grande razão, causa de todo o ser, refletimos sobre uma possível redefinição profunda da nossa compreensão existencial. Ao fazer isso, abrimos as portas para uma jornada de descoberta, autoconhecimento e transcendência que nos leva além das fronteiras convencionais da experiência.


Diante disto, se considerarmos uma "psicofisiologia", como propôs este pensador, o que se entende por "adoecimento psíquico" não seria mais do que o "adoecimento do Eu", o que implica dizer que, levando em consideração que esse "Eu adoecido" foi e é permanentemente constituído e reconstituído por meio do corpo que o torna possível, o entendimento deste "adoecimento" implica, no entanto, no entendimento da manifestação deste corpo no mundo em que habita, ou seja, em seu meio.

Ainda há espaço para pensarmos a individualidade por meio do Eu? Dirá Nietzsche: "O que é conhecido é reconhecido", ou seja, o que conhecemos no Eu reconhecemos em seu rebanho, desse modo, o pensador expõe que a ideia de individualidade do Eu não passa de meio de afirmação não do homem, mas do rebanho que habita nele, que cultiva nele seu Eu. Contudo, o CORPO é a pura e genuína manifestação de individualidade do homem, criador primordial e indispensável de sua essência.