O Que é a Psicanálise Existencial Sartriana?

A Psicanálise Existencial Sartreana não busca apenas interpretar traumas ou condicionamentos inconscientes, mas revelar ao indivíduo sua liberdade essencial e seu projeto existencial original. Fundamentada nas ideias de Jean-Paul Sartre, essa abordagem terapêutica coloca a responsabilidade e a consciência como pilares centrais, ajudando o sujeito a compreender sua angústia não como um obstáculo, mas como um motor para a ação. Este artigo explora as bases dessa filosofia, esclarecendo como a terapia sartriana permite que o indivíduo se reconecte consigo mesmo e atue no mundo de forma mais autêntica.

JEAN-PAUL SARTREPSICANÁLISE EXISTENCIALPSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA EXISTENCIALPSICOLOGIA EXISTENCIALESSÊNCIA HUMANAFENOMENOLOGIA APLICADACRESCIMENTO PESSOALRESPONSABILIDADE EXISTENCIALSARTRE E A PSICOLOGIA CLÍNICAEXPERIÊNCIA SUBJETIVAMÉTODO FENOMENOLÓGICOEXISTENCIALISMONARRATIVAS EXISTENCIAIS

Por Flávio Sousa

10/29/20244 min ler

A man in a white shirt is floating in the water
A man in a white shirt is floating in the water

A psicanálise existencial sartreana, diferentemente de outras abordagens psicoterapêuticas, foca em um compromisso fundamental: possibilitar ao cliente a consciência de seu projeto existencial original. Em vez de entender os sintomas como traumas passados ou condicionamentos inconscientes, Sartre coloca a ênfase na liberdade do indivíduo e em sua capacidade de agir sobre o mundo e sobre si mesmo. Liberdade, tema tão abordado nesta perspectiva, não é apenas um estado de ser, mas uma condição inerente à essência humana. O refreamento dessa liberdade gera sintomas como angústia, estagnação e vazio.

A Consciência do Projeto Existencial

Para entender a proposta deste método, é essencial explorar a ideia de projeto existencial. Este conceito refere-se à totalidade das escolhas, inclinações e ações que definem a existência de uma pessoa, desde seus valores mais profundos até suas aspirações conscientes ou não. Este projeto é a expressão da liberdade do indivíduo e de sua capacidade de dar sentido à própria vida. Contudo, muitas vezes, essa liberdade é reprimida por fatores externos (sociais, culturais, familiares) ou particulares (medos, inseguranças, autossabotagem), levando a uma desconexão entre a pessoa e seu projeto original.

O Refreamento da Liberdade e Seus Sintomas

Quando esta liberdade é contida ou não reconhecida, o indivíduo passa a experimentar um sofrimento psíquico que, para Sartre, se manifesta como angústia. A angústia, nesse contexto, não é simplesmente um sentimento de medo ou ansiedade, mas o reconhecimento, mesmo que inconsciente, da responsabilidade que ela carrega. A pessoa se depara com a vastidão de possibilidades à sua frente e, ao mesmo tempo, com o peso de suas escolhas. Essa condição pode gerar um estado de inércia, como se ela estivesse presa entre o desejo de agir e o medo das consequências de suas ações.

Esta análise existencial se propõe a auxiliar no confronto dessa angústia, não para eliminá-la, mesmo porque isso não seria possível, mas para compreendê-la como parte essencial de sua existência. Ao trazer à consciência o projeto original e libertar o sujeito das amarras que o refreiam, a terapia promove uma atuação mais autêntica no mundo, onde a pessoa se apropria de sua capacidade de escolha e ação.

Liberdade e Responsabilidade: A Atuação no Mundo

Sartre diz que "estamos condenados à liberdade" — ou seja, somos sempre livres para escolher, mas isso implica sermos responsáveis por nossas escolhas. Quando alguém reconhece essa responsabilidade, se torna consciente de que sua vida é resultado de suas preferências, e não de circunstâncias externas inescapáveis. A psicanálise existencial, portanto, visa despertar essa consciência em seu analisando, mostrando que a condição de atuante, aquele que age no mundo, só se realiza plenamente quando o sujeito assume suas decisões.

Essa compreensão é profunda, pois ao assumir sua liberdade, o indivíduo também se responsabiliza por suas escolhas passadas. Isso não significa viver preso ao passado, mas reconhecer que as decisões feitas até o presente compõem a estrutura de seu projeto existencial, seja ele qual for ou qual tenha sido. Ser responsável pelo próprio projeto leva a uma postura ativa, onde o indivíduo passa a construir o futuro em sintonia com seus valores autênticos, ao invés de seguir padrões ou expectativas impostas por outrem.

A Origem no Histórico Existencial

Um dos pontos centrais do método sartreano é a relação do sujeito com seu Moi, ou seja, seu "eu" profundo (o "Mim" do sujeito), composto pelo histórico de sua consciência ao longo do tempo. A formação desse "eu" não é um processo estático, mas um fluxo contínuo de consciência que se desenvolve à medida que o sujeito percebe, sente e age no mundo. O histórico existencial de cada pessoa — suas experiências, suas decisões, suas interações — molda sua identidade e influencia seu projeto pessoal. Contudo, ao invés de ver esse histórico como determinista, Sartre sugere que a própria pessoa pode reinterpretá-lo, ressignificá-lo e, a partir dessa compreensão, recriar seu projeto de vida de maneira consciente.

A Angústia como Motor da Ação

A angústia, longe de ser um impedimento, é vista por Sartre, como um motor para a ação. É o reconhecimento pessoal da nossa própria liberdade diante de um mundo sem garantias, onde devemos nos responsabilizar por nossas escolhas e encontrar sentido por nós mesmos. A partir dessa angústia, surge a possibilidade de mudança e amadurecimento. O método sartreano ajuda o cliente a não fugir desse desconforto, mas a abraçá-lo como parte integral de seu trajeto, ou seja, se aprende a existir neste processo.

Conclusão: A Libertação Através da Ação

A psicanálise existencial de Jean-Paul Sartre, oferece um caminho de libertação ao ajudar o sujeito a tomar consciência de seu projeto existencial e a se apropriar de sua liberdade. O processo terapêutico não busca simplesmente resolver problemas imediatos ou suprimir sintomas, mas guiar a pessoa em direção a uma compreensão mais profunda de si mesma no fluxo de sua relação com o mundo. Ao compreender sua liberdade e sua responsabilidade, a pessoa pode se libertar das amarras que a impedem de agir, reconectando-se com seu projeto original.

Esse é o chamado da análise existencial sartreana: um convite à ação consciente, à responsabilidade plena por quem somos e por quem desejamos nos tornar. A verdadeira liberdade não está apenas na escolha, mas na capacidade de assumir essa escolha como parte do nosso projeto de vida.