Superação e Cooperação: Como Enfrentar Desafios e Seguir em Frente na Vida

A clínica sempre nos faz pensar a existência. Não bastando as dificuldades que nos são apresentadas ao longo da vida, nossos conflitos pessoais acabam somando numa verdadeira loucura que é ocupar nosso lugar num meio. Contundo, uma força ainda nos põe de pé, afinal seguimos. Mas, o que há presente na vida humana que garante ao homem infinitas possibilidades de levantar, de continuar, de seguir, de construir, de transformar e transformar-se?

As lacunas são tantas quanto podemos imaginar. Diante de nós, armemos então o tabuleiro da existência. Nossa análise precisa levar em consideração, também, pontos que nos impedem, que atrapalham ou dificultam nossas ações. E eles são fundamentais para a renovação e, para se pensar outros modos de agir.

Seguir em frente às vezes não é possível: eis que nos encontramos num ponto, não raro, muitas vezes responsável por nossas angústias. Tomando a exemplo ilustrativo, no jogo de Xadrez nem sempre podemos jogar com o Peão, Torre... Mas isso não nos impede de agir de outro modo, afinal, o Bispo pode nos revelar outros caminhos pelas diagonais; também o cavalo pode nos auxiliar com seus trajetos em L. Na realidade são as dificuldades que nos convidam a ampliar as possibilidades.

São as dificuldades que criam meios para a sustentação. Elas servem como rico adubo fertilizando o solo que nutre as profundas raízes que erguem a vida em grandes alturas. Contudo, é preciso esforço para respirarmos o ar puro no mais alto, pois as raízes que não avançam em solo profundo, não produzirão senão arbustos rasteiros incapazes de sustentar uma árvore. A menos, é claro, se levarmos em consideração uma, bem-sucedida, exceção à regra.

Exemplo de habilidade, superação e cooperação, as Sequoias, presentes na terra desde a era jurássica, estão entre as maiores formas de vida que temos conhecimento. São plantas gigantescas que se estendem até 130 metros de alturas. O maior exemplar de pé hoje mede 115 metros. E o que elas têm de curioso é o fato de que, apesar de serem imensas, suas raízes são rasas não ultrapassando 1 metro solo abaixo, isso não sustentaria uma árvore tão grande, salvo, é claro, graças a utilização de uma bela estratégia de cooperação. Uma Sequoia não se mantém de pé sozinha, mas juntas, elas são capazes deste feito. Suas raízes, apesar de não serem profundas, avançam lateralmente por metros até ligarem-se às de outras sequoias, garantindo apoio mútuo. Assim como nós humanos, elas não são solitárias, vivem em cooperação, sociedade, colônias, florestas onde dão sustentação umas às outras.

Podemos compreender, no entanto, como uma rede de apoio, o que possibilita a edificação dessas árvores colossais. Tudo porque, o incessante fluxo da vida segue sem pausa e é indiferente ao nosso desejo, ou seja, enquanto vivemos, a vida avança independente de nossa vontade. É possível optar pela inércia, mas mesmo assim, a vida, ainda que a nossa própria, avança. A inércia não se adequa à vida, pois mesmo o solo em que pisamos ou o relevo à nossa volta, está em constante mudança e, isso é indiferente às nossas escolhas, ou seja, independe de nossa vontade para acontecer. Quando criamos, avançamos junto com a vida; atravessando dificuldades e crescendo, consequentemente, ocupamos posições favoráveis para sucessíveis avanços.

Como dito acima, nem sempre é possível seguir na direção que se espera. A natureza, assim como a vida, não está submetida a leis, mas a necessidades. São nossas necessidades pulsantes que nos permitem criar outros meios, nem sempre com a Torre, nem sempre com o Cavalo... Sim, às vezes é possível alcançar grandes alturas mesmo sem raízes profundas: a rede de apoio, possível ao nosso redor nos permite ir mais alto. Atravessar as inevitáveis dificuldades que surgem no percurso criando meios, nem sempre em frente, nem sempre numa única direção, mas de maneira obstinada, é o acontecer da vida. É a vida se preenchendo de vida. A estática é individual, particular, pessoal, não se aplica ao grande todo e, o homem, queira ele ou não, faz parte da dinâmica deste grande todo que chamamos vida.