Você Não é Atlas: O Mundo é Pesado Demais, Mas Você Tem Escolhas

Carregar o peso do mundo nos ombros pode parecer um dever inescapável, mas será que realmente precisamos suportar tanto? Inspirado na história do titã Atlas, este texto nos conduz a uma reflexão profunda sobre as cargas que escolhemos levar e aquelas que, na verdade, não nos pertencem. Em um convite ao autoconhecimento e ao equilíbrio entre responsabilidade e autocuidado, provoca uma importante pergunta: será que o fardo que você carrega é realmente seu? Com uma escrita sensível e envolvente, busco refletir sobre a importância de que, soltar aquilo que nos sufoca pode não ser egoísmo, mas um ato de sabedoria. Ao repensar nossas escolhas, permitimos que nossa vida se torne mais leve e alinhada ao nosso verdadeiro propósito. Um convite à liberdade de ser, sem culpa e sem punição.

SAÚDE MENTALPSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA EXISTENCIALCRESCIMENTO PESSOALTRANSFORMAÇÃODESAFIOS DA VIDAEXPERIÊNCIA SUBJETIVASUPERAÇÃO DE OBSTÁCULOSDESAFIOS E TRANSFORMAÇÃO PESSOAL

Por Flávio Sousa

9/19/20244 min ler

brown horse statue on gray concrete wall
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Imagine carregar o peso do mundo inteiro em seus ombros, sentindo cada grama dessa carga insuportável. Atlas, o titã da mitologia grega, foi condenado a essa tarefa após a Titanomaquia, uma guerra entre os titãs e os deuses do Olimpo. Como punição, ele teve que suportar eternamente o peso do Céu, uma responsabilidade que não podia evitar, uma carga que ele nunca pediu, mas que foi forçado a suportar.

Talvez essa história se encaixe em algumas analogias no nosso cotidiano. Por exemplo: quantas vezes você se viu em uma posição semelhante, assumindo responsabilidades que não lhe pertenciam, carregando pesos que foram impostos por outros ou, pior ainda, por você mesmo?

Atlas, apesar de sua força descomunal, não tinha escolha. Sua punição era eterna, e o peso em seus ombros, inescapável. Mas, ao contrário dele, você tem a escolha de soltar os fardos que não são seus. Muitas vezes, nos vemos tomando decisões e assumindo papéis que nos sobrecarregam, sem perceber que podemos questionar essas responsabilidades e redefinir nosso caminho, alinhando-o não apenas com os nossos valores, mas, conscientemente, com nossas necessidades.

Antes de prosseguir, preciso dizer que isto aqui não é uma ode ao egoísmo, pelo contrário, é uma defesa apaixonada pelo desenvolvimento consciente da sua saúde mental.

Pense em quantas vezes você se sentiu obrigado a carregar o peso de expectativas alheias, de problemas que não eram seus, de dores que você decidiu suportar em silêncio. Você, assim como Atlas, pode ter acreditado que essa era a sua única opção, que precisava ser forte, inabalável, um pilar para os outros. Mas a verdade é que essa carga, por mais pesada que seja, pode não ser sua, e, ainda impedir significativamente o seu desenvolvimento, sem mesmo ser compreendida.


Sendo mais claro: ao enxergar o sofrimento dos outros como maior que o seu, você pode estar negligenciando suas próprias dores e necessidades, ou seja, o seu próprio cuidado. Esse é um sinal de que, talvez, estejas se autossabotando, colocando os outros em primeiro lugar, como uma justificativa, para evitar enfrentar suas próprias angústias. Eis o ponto onde lanço luz.

Agora, imagine por um momento como seria soltar esse peso, deixar de lado as responsabilidades que não lhe pertencem e abrir mão de colecionar dores alheias que, desenfreadamente, somam-se às suas. Cada ser humano carrega a responsabilidade pela própria existência, e, ao se perder nas dores do outro, corre-se o risco de anular-se em sua própria vida. Não se trata de abandonar o compromisso de ajudar o próximo, pois tal gesto é nobre e necessário, mas sim de reconhecer que o sofrimento alheio pode, se entendido como nosso, se tornar impossível de suportar. A angústia do outro pode ser acompanhada e cuidada, mas sem que você abdique do seu próprio autocuidado. Ao contrário de Atlas, você tem a liberdade de repensar suas escolhas e questionar se o fardo que carrega realmente é seu e, a partir daí, compreender se o lugar que vem ocupando em sua própria vida garante a produção de mais vida ou a põe em questão. Ao fazer isso você está, na verdade, exercendo a sabedoria de quem compreende que o cuidado com o outro deve coexistir com o cuidado consigo mesmo. O reconhecimento da própria liberdade, responsabilidade e limites é o que permite viver sem transformar a vida em uma punição autoimposta.


Cada vez que você decide soltar um desses fardos, se aproxima de uma vida mais leve, mais saudável... E ao focar no seu próprio sofrimento, começa a perceber que suas dores são originais, autênticas e válidas, e, como tais, merecem cuidado e atenção. Ao fazer isso, nos permitimos um processo de crescimento que estava sendo bloqueado por uma autonegação.

Se você se encontra, como Atlas, esmagado pelo peso do céu ou do mundo, pergunte-se: este fardo é realmente meu? Reforço aqui que, temos responsabilidades equiparadas entre nós e o mundo, ou seja, na mesma medida em que somos responsáveis por nós, somos também pelo mundo e, isto é bem verdade. Mas é mais igualmente importante saber equilibrar a balança para não pesar de mais para um lado, negligenciado o outro onde você está.


Além disso, comece a questionar se, ao enxergar as dores dos outros como maiores que as suas, você não está se privando de cuidar de si mesmo. Isso pode ser uma forma de autossabotagem e Má-fé, uma maneira de evitar o enfrentamento das suas próprias questões. Não há vergonha em reconhecer que você também sofre, que suas dores são legítimas, e que você merece o mesmo cuidado que oferece aos outros.

Conhecer a sua dor e se responsabilizar pelo seu cuidado é a premissa fundamental para a construção de um projeto de vida verdadeiramente original. Ao tomar consciência do peso que você carrega e perceber que não precisa sustentar o mundo inteiro em seus ombros, abre-se o caminho para escolhas mais alinhadas com o que realmente faz sentido para sua existência. Nesse processo, você não apenas alivia o fardo, mas também encontra uma liberdade criativa que permite traçar um caminho único, onde o seu cuidado deixa de ser obstáculos e se torna fonte de transformação pessoal.


Repensar suas escolhas, soltar as cargas que te esmagam, permitindo-se viver uma vida mais leve, mais livre e mais alinhada com o que realmente lhe vale a pena enquanto indivíduo, é permitir-se viver o seu projeto original, onde é muito possível, inclusive, o exercício do altruísmo, pois sentir-se em condições de ajudar ou contribuir com o crescimento alheio é muito mais válido e eficaz do que perder-se em meio ao caos dos sofrimentos pessoais e alheios. Como disse um certo Johann Wolfgang Von Goethe: "quando faltamos a nós mesmos, tudo nos falta."